terça-feira, 8 de julho de 2008

Mantis e Clonopsis: Amor Bizarro


Acordei no meio da noite agitado por causa de um pesadelo. Levantei-me da cama e fui até a janela, quando vi uma cena que no mínimo posso descrever como inusitada. Bizarra, impressionante... Muitos outros adjetivos poderiam também ser usados para contaminar o leitor com o impacto das sensações que senti. Parcialmente iluminados por alguns raios da radiante lua cheia, que pareciam romper as folhas da frondosa árvore, estavam lá, explícitos: Uma Mantis religiosa e um Clonopsis gallica. Que diabos é isso? Calma, calma, vou explicar. Mas antes será preciso diferenciá-las para que fique claro que são espécies bem diferentes. A Mantis é o inseto conhecido popularmente como Louva-a-Deus. Com seus braços ágeis e fortes, mantidos estrategicamente junto ao corpo como uma fervorosa beata, são temidas carnívoras, predadoras de outros insetos. Já o Clonopsis é o mestre do disfarce dos insetos, exímio dominador da arte do mimetismo, esta é uma outra espécie que na boca do povo é chamada de Bicho-pau. Um cara magrinho e lento que se torna quase invisível entre gravetos, reproduzindo seus movimentos causados pelo vento. Mas não é que estes dois descarados resolveram transar em frente a minha janela? Tudo bem em se promover a união e se valorizar a diversidade de raças e culturas, “viva a diferença”, como diziam os franceses, mas assim já é demais! Aquela cena era quase como ver a Ivete Sangalo transando com o Dalai Lama.

Bem, mais um tempo observando e minha curiosidade se aguçava. Mantis, a fêmea, movia os quadris na horizontal de forma ligeira, porém graciosa. Clonopsis, por sua vez, se mexia matematicamente devagar, na vertical. E não é que essa aparente combinação de raças e estilos tão diferentes formava um conjunto harmônico perfeito. E pior, seus pequeninos rostos demonstravam o prazer que sentiam naquele momento. É, pasmem, eles tinham uma expressão facial de satisfação. Esfreguei os olhos na tentativa de limpá-los e de perceber que aquilo não estava acontecendo. Você já viu algum inseto com expressão facial? Uma formiga com cara de triste? Ou um mosquito com a “boca” travada de irritação? Acho que é por isso que tantos insetos inspiram os robôs e Ets dos filmes de ficção científica. Mas essa era a realidade. Uma linda verdade de almas gêmeas que unidas pelo amor driblaram a mãe natureza. Essa altura eu já estava delirando mesmo. De repente, lembro-me que as fêmeas do Louva-a-Deus tradicionalmente devoram seus machos após o acasalamento. Percebo que o ato acabara de chegar ao clímax e que a separação de corpos estava iminente. O lerdo Clonopsis começava um movimento de distanciamento. E Mantis se sacode agitada quase que pulando para trás. Em poucos segundos ela posicionava-se como se fosse dar um bote. Mas, surpreendentemente, Clonopsis levanta vôo carregado por uma brisa mais forte que o leva para o que seria, nas proporções dos pequeninos, quase que outro país. Sem perceber que foi salvo por uma força superior parecia sentir uma terrível perda em sua vida.

Essa historinha aparentemente infantil me trouxe ensinamentos sobre relacionamentos, diferenças e coisas que só compreendemos muito tempo depois que acontecem, que carrego até hoje. E também me fez esquecer o sonho que tive neste dia com uma visão macabra diante da minha janela...

Por Vini

P.S.: Participei do concurso do blog Page Not Found (http://oglobo.globo.com/blogs/moreira/) com esta historinha mas meus concorrentes foram mais talentosos, hehehe.

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